Pesquisadores dão dicas para evitar doenças de solo no cultivo de soja

Podridão cinza da haste e da raiz causado por Macrophomina phaseolina. Foto: Divulgação Embrapa

Os cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Alexandre Dinnys Roese (analista em Fitopatologia) e Augusto César Pereira Goulart (pesquisador na mesma área) dão dicas para evitar as doenças de solo, em artigo veiculado – abaixo – pela Unidade Agropecuária Oeste (MS).

A época de semeadura da soja se aproxima e é hora de deixar tudo preparado: máquinas reguladas, insumos à disposição e muito cuidado com as doenças de solo. Isso mesmo. Os cuidados para evitar ou minimizar os efeitos das doenças incluem a conservação do solo e o processo de semeadura.

Para a obtenção de produtividades elevadas, é fundamental que a implantação e desenvolvimento inicial da lavoura ocorram de forma adequada. Solos mal conservados ou em condições inadequadas (compactados, mal drenados, com baixa atividade microbiana e pobres em nutrientes) aumentam as chances de ocorrência de doenças provocadas por microrganismos. Ao contrário, solos bem manejados são geralmente supressivos a doenças.

Algumas doenças muito comuns na soja e altamente favorecidas pelo manejo inadequado do solo, são comentadas a seguir:

Podridão da raiz e da haste da soja (podridão-radicular-de-fitóftora) causada por Phytophthora sojae:

O sintoma principal é o escurecimento ascendente, a partir da base da haste, subindo homogeneamente na planta até as ramificações da haste principal. As plantas murcham, mas não perdem as folhas.

Solos compactados e encharcados favorecem o desenvolvimento do patógeno, permitindo que migre até as raízes das plantas. Solos argilosos são mais vulneráveis à ocorrência da doença. Em algumas regiões, as semeaduras mais antecipadas podem expor as plantas a baixas temperaturas, aumentando as chances de ocorrência da doença.

Tombamento de pré e pós emergência causado por Rhizoctonia solani:

Os sintomas nas plântulas são o estrangulamento do colo, com lesões circulares marrom-avermelhadas, que tornam-se alongadas e deprimidas. As plântulas geralmente tombam até 15 dias após a emergência.

A planta adulta desenvolve apodrecimento seco das raízes, estrangulamento do colo e lesões deprimidas e escuras abaixo e ao nível do solo, resultando em murcha, tombamento ou sobrevivência temporária com emissão de raízes adventícias acima da região afetada. Baixas temperaturas favorecem a doença.

Podridão-das-raízes causada por Fusarium solani:

O sintoma primário tem início na raiz principal que apresenta discreta coloração avermelhada, progredindo para marrom. As plantas apresentam apodrecimento do tecido interno da raiz e desintegração dos feixes vasculares, com consequente amarelecimento geral, murchamento e morte das plantas. Alta umidade do solo, altas temperaturas e compactação favorecem a doença.

Podridão cinza da haste e da raiz causado por Macrophomina phaseolina:

Os sintomas iniciais aparecem frequentemente no colo da planta, atingindo posteriormente a raiz principal e as partes superiores da haste e ramos primários. Observam-se lesões acinzentadas, difusas, de aspecto úmido, que evoluem para intensa podridão dos tecidos, onde são observadas inúmeras pontuações negras (microescleródios) que são as estruturas de reprodução e sobrevivência do fungo.

Plantas infectadas apresentam amarelecimento generalizado, murchamento e morte. A doença pode se manifestar em todos os estádios de desenvolvimento das plantas. É favorecida por umidade do solo e temperaturas elevadas. Além disso, solos compactados restringem o desenvolvimento das raízes e predispõem as plantas ao ataque do fungo.

Solos mal conservados predispõem as plantas a diversas outras doenças além das comentadas acima. Por exemplo, as doenças de final de ciclo (DFCs – mancha parda e crestamento foliar) são mais comuns em solos com baixos teores de nutrientes. Mesmo que o solo não seja pobre em nutrientes, a limitação no desenvolvimento radicular devido a problemas na estrutura do solo leva a deficiências nutricionais nas plantas.

No caso de nematoides, os sintomas reflexos (secundários) na parte aérea das plantas (folha carijó, subdesenvolvimento) muitas vezes não são percebidos, quando o solo está bem manejado. Esses exemplos mostram que o cuidado com a estrutura e composição do solo pode fazer com que muitas doenças não atinjam o limiar de dano, quando a doença ocorre mas não provoca redução na produtividade.

Assim, a manutenção de boas condições físicas, químicas e biológicas nos solos agrícolas, aliado à observância da melhor época de semeadura, constitui-se em um cuidado fundamental para a sustentabilidade e a lucratividade das lavouras.  Além das condições químicas, que o produtor já está acostumado a conferir, outros cuidados para uma boa gestão do solo estão relacionados abaixo:

  • Conservação do solo, que pode ser alcançada por meio da redução da erosão e aumento de cobertura vegetal;
  • Conservação da matéria orgânica do solo, que inclui a redução do preparo do solo, a aplicação de adubos orgânicos de origem vegetal ou animal, o aumento da diversidade de espécies cultivadas e o aumento do aporte de carbono ao solo;
  • Atenuação de estresses provocados no solo, que requer otimizar o preparo, evitar operações agrícolas em solo com umidade inadequada, reduzir o trânsito de máquinas e favorecer a manutenção de resíduos vegetais na superfície do solo;
  • Redução do uso de insumos tóxicos aos organismos do solo, o que inclui o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas (proporcionando o emprego racional de pesticidas), o emprego de cultivares resistentes a pragas e doenças, a rotação de culturas e o uso de plantas de cobertura do solo.

Com esses cuidados, alguns mais pontuais e outros que devem ser trabalhados a longo prazo, faz mais sentido desejarmos uma boa safra a todos!

Fonte: Embrapa Agropecuária Oeste

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