Um novo hub para inovações na área de controle biológico

O Vale do Piracicaba, em São Paulo, foi escolhido pela subsidiária brasileira da holandesa Koppert para sediar o primeiro observatório de startups do país com soluções voltadas especificamente para controle biológico. A companhia projeta que essa área responderá por 25% a 40% das vendas no mercado brasileiro de proteção de cultivos em dez anos, ou até US$ 5 bilhões de um total de cerca de US$ 15 bilhões.

Batizado como “Gazebo”, que em inglês quer dizer “mirante”, o hub ocupará uma sala dentro do centro de inovação AgTech Garage e deverá ser palco para a mentoria e a aceleração de até dez startups já em 2021. O orçamento da Koppert para manter a estrutura, ter equipe de apoio dedicada às startups, testar soluções em campo e oferecer contrapartidas financeiras às agtechs, que serão definidas caso a caso, é de R$ 25 milhões, a serem investidos em um prazo de cinco anos.

“Daqui a dez anos, o produtor vai poder monitorar seu negócio remotamente e queremos que ele tenha à mão as ferramentas que vão agilizar o uso dos biológicos”, afirma Gustavo Ranzani Herrmann, diretor comercial da Koppert do Brasil. A primeira startup instalada no hub, a e-Trap, ataca justamente essa frente. Por meio de uma armadilha eletrônica, dotada de câmera de vídeo e sensores, a empresa deve dispensar a visita de profissionais às lavouras para as contagens de insetos e para apontar o momento certo de entrada com as aplicações.

Como na agricultura os problemas são complexos, Herrmann argumenta que construir projetos em conjunto, seja entre startups ou ecossistemas de inovação, é mesmo uma das melhores alternativas. No caso da e-Trap, já foi feita a ponte com o São Paulo Advanced Research Center for Biological Control (SPARCBio), centro de pesquisa da Koppert, da Fapesp e da ESALQ/USP em bioinsumos, que também é parceiro do Gazebo, para atrair a broca da cana para as armadilhas usando feromônios (hormônios de atração sexual), que estão sendo sintetizados na ESALQ. A expectativa é que a solução completa esteja disponível no mercado em um prazo de dois ou três anos.

“Precisamos ir ligando os pontos para que, lá na frente, o produtor compre nosso produto em um e-commerce e, associado a isso, possamos ter serviços que acelerem suas tomadas de decisão”, disse Herrmann.

A ideia é também atrair para o Gazebo outras empresas, fundos de Venture Capital e family offices que queiram investir nas startups selecionadas num conceito amplo de controle biológico, que vai além do escopo de atuação da Koppert, uma das maiores companhias desse segmento no mundo. No país, os produtos da múlti já são destinados ao combate de diferentes pragas e doenças em 2 milhões de hectares de cana, 4.5 milhões de hectares de grãos e 50 mil de hortifrútis. A receita da empresa no Brasil alcançou R$ 150 milhões no ano passado.

Na semana passada, a brasileira Jacto, empresa de máquinas agrícolas, firmou parceria com o SPARCBio, e a ideia é que a empresa possa cooperar também com o Gazebo, especialmente no que se refere ao desenvolvimento de novas tecnologias para a aplicação e a liberação de biodefensivos nas lavouras.

Independentemente do segmento de atuação das diferentes empresas no campo dos biológicos, Herrmann não tem dúvidas de que o segmento deve crescer na próxima década com o avanço da agricultura de precisão e da automatização do monitoramento de pragas, porque ambas as frentes permitem aplicações localizadas, na dose e no tempo certo, combinação ideal para o sucesso do controle biológico.

Mercado já se aproxima de R$ 1 bilhão no País 

O mercado de controle biológico na agricultura cresce a cada safra no País, impulsionado pela busca dos produtores por alternativas complementares ao uso de produtos químicos no combate a pragas e doenças das lavouras. Pesquisa da Spark Inteligência Estratégica aponta que esse mercado movimentou R$ 930 milhões (US$ 237 milhões) na safra 2019/20, com aumento de 46% em reais e de 34% em dólares ante 2018/19. A área potencial tratada cresceu 23%, para 19.4 milhões de hectares.

A soja é a cultura com maior relevância nesse mercado (59% da área total tratada), seguida por cana (27%) e algodão (6%). Milho, café, feijão e uma ampla cesta de hortifrútis vêm na sequência. Também em termos de área tratada, os produtos com maior procura são os bioinseticidas (41%), bionematicidas (35%) e biofungicidas (24%).

Lucas Lima Alves, coordenador de projetos da Spark, afirma que os defensivos biológicos respondem hoje por 2,50% de um mercado de produtos de proteção de cultivos que gira em torno de US$ 12 bilhões por ano, e que a tendência é de avanço.

“O crescimento dos biológicos é puxado pela recomendação, cada vez maior, da academia e das indústrias, de que o produtor diversifique sua estratégia de controle de pragas e doenças, visando manejar a resistência aos químicos”, disse. Além disso, ele destaca a maior facilidade de registro dos biodefensivos como um fator que aumenta a oferta nas prateleiras e contribui para o desenvolvimento do mercado. “Diferentemente dos químicos, registrados por praga e cultura, os biológicos têm registro amplo, para todas as culturas”, disse Alves.

Segundo dados do Ministério da Agricultura compilados pela Spark, nos últimos cinco anos foram registrados 199 produtos biológicos no Brasil, contra 70 de 2005 a 2014. Os biológicos cobrem apensa 20% da área plantada no Brasil com diferentes culturas, ou 13.1 milhões de hectares, conforme a Spark. Assim, é grande o potencial de crescimento.

Segundo o Radar Agtech Brasil 2019, da Embrapa, 2,80% de um total de 1.125 startups no País se dedicam especificamente à fabricação de agentes biológicos, 3% a ferramentas de agricultura de precisão, 2,60% a tecnologias de sensoriamento remoto e 3,80% à operação de drones. Cada qual com seu papel, elas têm ganho cada vez mais relevância nas aplicações de biodefensivos.

Valor

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