Aprosoja se desliga da Abag apontando diferenças de interesses e objetivos

A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) anunciou sua saída da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), citando o descontentamento com a forma pela qual a entidade vem representando o setor produtivo. Consultada, a Abag informou que não vai se pronunciar sobre o assunto.

A decisão foi informada em requerimento de desligamento enviado à Abag em 25 de setembro. “Destacamos que a decisão se deu em razão de entendimento de não mais serem convergentes os interesses e objetivos da Aprosoja Brasil e esta entidade”, indicou o documento assinado pelo presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz Pereira.

Como os diretores da Abag são escolhidos entre os associados mantenedores, Pereira, que participava do Conselho Diretor da associação, também comunicou a renúncia a seu cargo de diretor.

Ao Broadcast Agro, o presidente da Aprosoja Brasil disse que a Abag tem vários outros membros que não são representantes de produtores, como empresas de insumos e bancos. Na avaliação do setor produtivo, muitos posicionamentos da entidade, principalmente em questões relacionadas à sustentabilidade, prejudicavam a imagem do produtor brasileiro e do País.

“Tentamos várias vezes com a diretoria fazer com que ela olhasse para o Brasil que produz e protege. Temos problemas, sim, mas muito pequenos e precisamos resolvê-los, e não estampar esses problemas, colocar isso como o principal e levar o Brasil a ter uma imagem ruim”, declarou Pereira.

“Somos os que mais protegem (o meio ambiente) e eles conseguiram, sendo uma associação que se diz representante do agronegócio brasileiro, levar a uma imagem totalmente distorcida”.

Diálogo

A decisão foi tomada em assembleia das Aprosojas estaduais. Para Pereira, o produtor brasileiro se sente melhor representado fora da associação, pois se deparava com empresas exigindo medidas que vão além das exigências do Código Florestal.

“Temos de separar joio do trigo. Se estiverem querendo pagar pelos serviços ambientais já prestados, que são as reservas legais, seria muito interessante, mas nunca fizeram isso”, disse o executivo.

“A ideia agora é fortalecer o diálogo com entidades que buscam resolver os problemas na agricultura sem fazer lobby, e com responsabilidade”, acrescentou Pereira, citando o Instituto Pensar Agro (Ipa), a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) e a Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho).

A ideia, segundo o dirigente, não é criar uma nova associação. “Os produtores se consideram bem representados em nível intersetorial pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A entidade que representa todas as cadeias pulverizadas é a CNA”.

Consultado, o presidente da Abag, Marcello Brito, disse que a entidade não vai comentar a saída da Aprosoja Brasil.

Coalizão

Um dos pontos de discordância entre as duas associações é a participação da Abag na Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, formada por 230 organizações e empresas ligadas às áreas do meio ambiente e do agronegócio.

A coalizão enviou este mês um conjunto de seis propostas para deter o desmatamento na Amazônia ao presidente Jair Bolsonaro e ao vice-presidente Hamilton Mourão, além dos ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente, da Economia e de Ciência e Tecnologia. As propostas chegaram ainda às mãos de líderes e parlamentares da Câmara e do Senado, ao Parlamento Europeu e embaixadas de países europeus.

Na época do envio das propostas, Brito afirmou que o desmatamento descontrolado da Amazônia se confirmava como um dos maiores riscos à economia brasileira. Na sua avaliação, o agronegócio corre o risco de ser penalizado em suas exportações se o País não combater os crimes ambientais na Amazônia e pode ser prejudicado em sua produção, porque é dependente do regime de chuvas que a floresta proporciona.

“O trabalho da coalizão reforça as diversas iniciativas que estão em andamento. Essas medidas não reinventam a roda, elas apenas cobram que sejam colocadas em prática ações já possíveis”, afirmou Brito, na ocasião.

Também na época do envio das propostas, o presidente da Aprosoja Brasil criticou, em entrevista ao Canal Rural, as medidas apresentadas pela coalizão, qualificando-as de “politicagem”, e disse que não via objetivo claro no grupo. “Não estão aí para resolverem o problema. São na verdade oportunistas”.

Sustentabilidade

Questionado pelo Broadcast Agro se as propostas da coalizão foram o estopim para a saída da Aprosoja da Abag, Pereira disse que produtores já vêm se mobilizando para solucionar questões relacionadas à sustentabilidade.

Ele reforçou que o setor produtivo é muito prejudicado por queimadas, já que a produtividade de campos atingidos por fogo diminui, e apontou que produtores têm contribuído na formação de brigadas de incêndio e cessão de aviões de pulverização para combate das chamas.

Outras questões relacionadas ao tema também têm sido discutidas com o governo e o Congresso, segundo Pereira. “O desmatamento ilegal tem de ser punido. As questões fundiárias da Amazônia têm de ser resolvidas. Essas são pautas que estamparam (a coalizão) para cobrar, só que a gente está trabalhando isso lá com o Ministério (da Agricultura) e o Congresso na lei de regularização fundiária”.

Segundo o executivo, a Aprosoja também vem atuando pela conclusão do Cadastro Ambiental Rural (CAR). “Os produtores de soja quase 100% já têm CAR, mas a área que não tem prejudica a fiscalização e o monitoramento”.

 

Fonte: Broadcast Agro

Equipe SNA

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp