Alface americana: crocância verde conquista mercado

Popularizada pela sua crocrância e presença certa em sanduíches, a alface americana é uma das variedades que ganharam força nos últimos anos. Foto: Divulgação

Difícil pensar em fazer uma salada sem lembrar da alface. A hortaliça mais presente no prato do brasileiro tem consumo crescente em Minas e produção em alta nos canteiros do produtor rural, abastecendo sacolões, feiras livres e redes do varejo. Grande parte da produção está concentrada na Grande BH, no chamado cinturão verde, Zona da Mata e Campo das Vertentes.

Popularizada pela sua crocrância e presença certa em sanduíches, a alface americana é uma das variedades que ganharam força nos últimos anos. Hoje, já é a vice-campeã em vendas no país, depois da crespa. Apesar de exigir mais cuidados, o custo da produção é compensado pelo preço final, já que no varejo a americana chega a custar até 25% mais que os outros tipos de alface.

Cultivada em sua grande maioria pela agricultura familiar, cerca de 80% da alface produzida em Minas Gerais é comercializada diretamente pelo produtor em feiras livres e nas redes varejistas. Tal cenário também garante maior lucratividade. No ano passado, o Estado produziu 30 mil toneladas da hortaliça, cerca de 23 toneladas por hectare, segundo cálculos da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais).

No entreposto da CeasaMinas em Contagem, na Grande BH, o preço médio da dúzia da hortaliça neste ano atingiu R$ 10,25 – 25% acima da média de preços alcançada no ano passado. Quem vende direto para o consumidor nas feiras livres está conseguindo apurar até R$ 2,50 pela unidade da alface crespa ou lisa e até R$ 3 pela americana.

“Estamos na entressafra, por isso o retorno está bom para o produtor. Em épocas de maior produção, o preço da unidade (hoje comercializada a R$ 0,85 na Ceasa) chega a cair a R$ 0,50”, explica Antônio Carlos Quintela, técnico da Emater em Igarapé, onde são produzidas cerca de 2,5 mil dúzias por semana.

No país, as variedades mais consumidas são as crespas, que respondem pela fatia de 50% do mercado. A americana, que veio crescendo devagar a partir da década de 1990, especialmente impulsionada pela demanda das redes de fast food, já tem 30% do mercado consumidor. As outras alfaces, como a lisa, a roxa e romana, dividem a fatia restante.

No Sul de Minas, a produção da alface americana ganhou impulso para atender redes estrangeiras e nacionais de lanchonetes. Fabio Suinaga, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Hortaliças, explica que a alface americana tem espaço nos sanduíches por ser mais resistente ao calor e não murchar, o que deixa o lanche mais gostoso.

O pesquisador explica que a variedade tem um ciclo de produção um pouco mais longo: enquanto a crespa e a lisa podem ser colhidas, em média, em 60 dias, a americana leva 75 dias até a colheita, o que ao término de um ano faz diferença para o produtor. O espaçamento para o plantio também é maior, questões que junto com a oferta e demanda do mercado ajudam a justificar o preço mais alto da hortaliça.

Na entressafra, que costuma chegar ao fim a partir de maio, a rentabilidade da cultura chega a alcançar 60%. Mas o produtor precisa estar preparado para enfrentar a safra, que tem maior produção e menos consumo. Apesar de ser consumida o ano inteiro, a maior procura pela alface ocorre durante os meses mais quentes do ano.

CULTIVO EM EXPANSÃO

A alface é a principal folhosa consumida no país. Em 2014, foram comercializadas, somente no entreposto da CeasaMinas em Contagem, 814 toneladas da hortaliça, alta de 37% frente a 2010. Ricardo Martins, coordenador de informações de mercado da CeasaMinas, diz que perto de 75% desse volume é produzido na Grande BH. Há 15 anos, a região dominava, fornecendo praticamente 100% da hortaliça. Agora, os arredores de Barbacena, na Zona da Mata, chegam a contar com 15% da colheita. O restante é pulverizado em pequenas quantidades em regiões variadas do Estado.

Benedito Rafael da Costa é presidente da Associação de Hortas Comunitárias, em Sete Lagoas, que está dentro do chamado cinturão verde. Há 21 anos produzindo hortaliças, ele introduziu a alface americana em seus canteiros há pouco mais de uma década e, hoje, a variedade ocupa pouco mais de 20% de sua plantação. Utilizando técnicas da agroecologia sem o uso de produtos químicos, ele chega a obter R$ 3 pela espécie na feira livre, enquanto as demais oscilam perto de R$ 2,50. “A alface americana tem um custo de produção mais alto, que começa com o preço da semente e vai até a colheita. Os cuidados com a cultura são maiores. Ela tem maior propensão a ter doenças e é preciso ter um controle rígido da quantidade de água que recebe, diferentemente das demais espécies”, aponta.

Segundo Gastão Goulart, engenheiro-agrônomo da Emater-Minas, o volume de alface produzido no Estado é crescente devido à evolução das técnicas de cultivo e de conservação pós-colheita, aliadas aos hábitos alimentares da população, que busca alternativas mais saudáveis. Como o produto é bem perecível, quanto mais rapidamente for vendido melhor para o produtor e para o cliente.

SIMPLICIDADE

O cultivo da alface é relativamente simples. De ciclo curto, os canteiros se renovam a cada dois meses e as sementes, desenvolvidas para ser mais resistentes ao clima tropical e às doenças, costumam garantir boa safra em condições climáticas favoráveis, o que significa não ter excesso de chuvas e nem de calor.

Valdir Gonçalves, de 49 anos, começou cedo na profissão de agricultor. Aos 14, já cultivava lavouras como meeiro. Hoje, ele se dedica às hortaliças em Igarapé, na Grande BH. Valdir vende o produto direto para redes de supermercados e, na semana passada, estava recebendo R$ 6,66 pela dúzia.

“Se vendesse na Ceasa conseguiria preço melhor, mas, por enquanto, prefiro vender para os clientes que já tenho e estão próximos”, avalia.

Ele cultiva as variedades crespa e americana, mas confirma que a preferência popular em Minas, assim como no país, ainda é pela primeira delas. A segunda tem ganho espaço gradativamente. Os preços da alface na semana passada atingiram o auge. Mas, apesar da rentabilidade na entressafra, o produtor de hortaliças está preocupado com o período da safra, que começa em abril. Apesar do clima mais ameno, a escassez da água ameaça a produção irrigada.

Dedicada ao cultivo 100% orgânico e com selo de certificação, Mônica Pletschette é produtora rural em Sarzedo, na Grande BH, onde cultiva hortaliças no Sítio do Frade. A comercialização é feita em feiras livres de orgânicos e também com entrega na casa do consumidor, na Zona Sul de Belo Horizonte.

As hortaliças são sensíveis às variações climáticas, sofrendo muita oscilação de preços. Até a semana passada, Mônica comercializava as alfaces lisa, crespa e a rocha por R$ 3, e a americana orgânica por R$ 3,90. “Essa é uma variedade que costuma ter produtividade menor e perdas maiores”, explica.

LISA JÁ FOI A PREFERIDA

O cultivo da alface começou a ganhar espaço no Brasil a partir da década de 1960 com a alface lisa, variedade que dominou o mercado até a década de 1980. Nos anos 1990, a crespa, com variedades mais rústicas – que se adaptaram melhor ao clima tropical, quente e com chuvas –, ganhou terreno e chegou a dominar 50% do mercado. No mesmo período, a alface americana deslanchou no país, consolidando seu mercado anos 2000, invertendo assim a tendência de consumo percebida até a década de 1980.

Fábio Suinaga, pesquisador da Embrapa Hortaliças, explica que as pesquisas estão sempre em busca de desenvolver variedades resistentes às doenças e também mais tolerantes ao calor, já que a alface é uma hortaliça que se adapta melhor às temperaturas amenas. De acordo com Suinaga, no momento existem pesquisas em curso que devem beneficiar o cultivo da alface americana. “Hoje, regiões como o Sul de Minas enfrentam problemas com doenças provocadas por fungos”, explica.

Apesar de o mercado brasileiro ser dominado pela alface crespa (50%) e pela americana (30%) e lisa (10%), existe terreno para o desenvolvimento de outros mercados. O especialista lembra que variedades como as alfaces romana, roxa e a chamada baby leafs (folhas bebê, em inglês) têm potencial para ganhar mais espaço, com melhores preços.

O produtor deve ver o mercado com olhar de longo prazo e começar aos poucos a trabalhar com as novas variedades. “É muito importante para ter um produto final de qualidade que as mudas sejam bem cuidadas”, alerta o pesquisador da Embrapa. Segundo Suinaga, para entender melhor, a mesma analogia pode ser feita com o ser humano. “Um recém-nascido bem cuidado, que toma as vacinas e recebe nutrição adequada, deve crescer mais forte e menos suscetível a doenças.”

Valdir Gonçalves, produtor de hortaliças em Igarapé, na Grande BH, destaca que o produtor deve estar atento aos seus clientes. “Percebo que nos mercados mais populares a maior demanda é pela alface crespa, mas planto também a americana, que tem preço mais alto, com saída maior do produto no comércio voltado para a alta renda”, avalia.

Mônica Pletschette, produtora em Sarzedo, também na Grande BH, diz que o consumidor hoje busca variedade. Por isso ela semeia em seus canteiros os quatro tipos mais procurados: crespa, americana, lisa e roxa.

Fonte: Estado de Minas

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