Diálogo e organização podem alavancar a cadeia de leite no Brasil, dizem especialistas

Brasil é o terceiro maior produtor de leite do mundo

Em 2022, o setor leiteiro no Brasil enfrentou dificuldades devido à alta dos custos de produção, principalmente dos insumos.

Aliado a isso, o aumento dos preços do milho e da soja no mercado internacional, a estiagem provocada pelo La Niña em algumas regiões do País, principalmente no Rio Grande do Sul, e ainda as importações de leite do Mercosul no segundo semestre do ano, desestimularam os produtores, e muitos deles resolveram abandonar suas atividades.

Apesar dos entraves, as perspectivas para 2023 podem ser melhores, avaliam representantes do setor. A expectativa é de que os novos governos – tanto federal quanto estaduais – possam manter um diálogo mais amplo com toda a cadeia produtiva.

“O governo poderia encontrar maneiras de tornar essa atividade mais viável. Para sermos competitivos, não podemos ter um custo de produção elevadíssimo, onde a tecnificação necessária requer produtos importados”, afirmou o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges.

“Precisamos ter maior competitividade, com preços mais acessíveis para compradores de outros países, e com menor custo de produção. Temos de trabalhar juntos para resolver essas questões”, ressaltou o executivo.

“Desde 2014 a produção de leite no Brasil está patinando e não sai da casa dos 34 milhões de litros por ano”, tanto por problemas econômicos quanto por questões pontuais relativas ao clima. Não podemos continuar a ser apenas o terceiro maior produtor de leite do mundo. Temos de focar para ser o maior produtor e, no futuro, o maior exportador de lácteos do planeta”.

União

Outra questão levantada por representantes do setor é a falta de organização da cadeia.  “Os elos precisam estar mais unidos, conversando, e a relação produtor com a indústria precisa melhorar muito, assim como a relação das indústrias e cooperativas que beneficiam o leite com o terceiro elo do setor, que são as redes de supermercados, os distribuidores”, destacou Borges.

“As indústrias perdem inúmeras oportunidades de terem os produtores como aliados, sempre que olham para o produto que chega às suas plataformas, sem compreender as dificuldades dos produtores para fazer o leite chegar lá”, observou o diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Alberto Figueiredo.

Segundo ele, “devido à ausência de interações necessárias com sistemas varejistas, por meio de contratos ‘ganha- ganha’, o próprio segmento industrial fica espremido, por um lado pela concorrência na hora da venda, e por outro pelo preço da matéria prima, sempre que os fornecedores têm opção”.

Nesse caso, completou o especialista, “contratos com margens negociadas, envolvendo produtores, cooperativas e indústrias e redes varejistas, poderiam ser capazes de aumentar a confiança mútua e permitir a redução das injustiças que tanto prejudicam os diferentes elos da nossa cadeia”.

A Abraleite já iniciou conversações com os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário para discutir pautas de interesse do setor. “Os ministros nomeados para essas pastas estão em sintonia e interagindo até mesmo com outros ministérios como o do Meio Ambiente, para debater questões como a produção sustentável”, informou Borges.

Exportações

Quanto à exportação de lácteos, o executivo acredita que o assunto deve ser trabalhado com mais firmeza. No entanto, afirmou que “é uma pauta de médio e longo prazo, e há preocupações com o mercado interno a curtíssimo prazo”.

“Precisamos entender que o Brasil é um grande consumidor de lácteos, mas devemos aumentar esse consumo com maior agregação de valor, como no caso dos queijos e iogurtes. Esse consumo atualmente corresponde à metade do que é consumido em países desenvolvidos como a França e a Suíça”.

Borges destacou ainda que o País tem muitos mercados abertos no setor, mas lembrou que é preciso “trabalhar para que essas exportações aconteçam”.

“É preciso haver maior interesse, principalmente por parte das indústrias de laticínios e cooperativas, que são as que podem exportar, inclusive para cobrar as entidades representativas a respeito do assunto”.

Nesse contexto, o presidente da Abraleite voltou a enfatizar que o governo federal deveria criar melhores condições de relacionamento com os participantes da cadeia para garantir a internacionalização dos produtos lácteos brasileiros. No entanto, disse ele, “enfrentamos problemas como as taxas de internacionalização desses produtos”.

Além disso, Borges ressaltou que o Brasil também precisa avançar em outras pautas sobre qualidade, sanidade e produtividade dos rebanhos.

Esforço

“No momento em que as pessoas concluírem, que, juntas, trabalhando de forma complementar e com propósitos honestos, tornarão a cadeia do leite mais forte, terão condições de oferecer, de forma competitiva, o leite e seus produtos derivados aos consumidores, em qualquer parte do mundo”, avaliou Figueiredo. “Dessa forma, teremos condições de gerar ainda mais empregos e renda para as famílias brasileiras”.

 

Por Equipe SNA
Fonte: AgroMais

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