Investimentos de impacto e sociobiodiversidade beneficiam a Amazônia sustentável

 

Os investimentos de impacto na Amazônia, que garantem um resultado social ou ambiental positivo com retorno financeiro, o capital filantrópico e a valorização da sociobiodiversidade (relação entre bens e serviços gerados a partir de recursos naturais) poderão abrir caminho para o desenvolvimento sustentável da região.

O assunto foi um dos destaques do webinar “Cadeias sustentáveis focadas na biodiversidade e no extrativismo”, organizado pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) em parceria com a Beraca, empresa fornecedora de insumos naturais para o setor de cosméticos e que atua na região amazônica.

Para a diretora da SNA e coordenadora do encontro, Sylvia Wachsner, uma das decorrências da pandemia do novo Coronavírus foi trazer para o primeiro plano as necessidades da Amazônia sustentável. “Há uma dicotomia da Amazônia como região rica com o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil. Soma-se a isso a relevância dos extrativistas, dos agricultores e dos que vivem do uso da terra”, disse.

Plano de trabalho

Nesse contexto, a sociobiodiversidade ganha importância. Érica Pereira, supervisora de sustentabilidade da Beraca e especialista em gestão ambiental, comentou sobre o plano de trabalho desenvolvido pela empresa com fornecedores de matéria-prima na Amazônia.

O projeto, que envolve a cadeia de produção do cupuaçu e a compra de sementes, está voltado para a complementação de renda das famílias agroextrativistas, promoção da capacitação e das boas práticas de manejo agrícola e criação de oportunidades de desenvolvimento organizacional e comercial.

Érica explicou, em linhas gerais, que o trabalho beneficia o desenvolvimento de toda a cadeia produtiva, “das comunidades locais até o consumidor”, com atenção especial à rastreabilidade e ao uso sustentável das florestas.

Pesquisa

Outro fator relevante é o ativo socioambiental. Um estudo sobre a Amazônia elaborado pela SITAWI Finanças do Bem mostrou que os investimentos de impacto na região podem ser viabilizados mediante fatores como capacitação técnica de empreendedores e comunidades locais; adoção de uma política de compras com preferência para produtos certificados e sustentáveis; valorização do capital paciente (que não necessita de ganhos a curto prazo), e interface de empresas e organizações com pequenos produtores, mercado e governo.

O levantamento da SITAWI indicou ainda que a redução do desmatamento, a garantia de qualidade de vida para a população ribeirinha; o combate à extração ilegal de madeira e a valorização dos ativos florestais são alguns dos principais desafios da Amazônia.

“Por outro lado, temos de começar a pensar em usar nosso capital para fomentar as cadeias extrativistas e sustentáveis na Amazônia, e isso poderá fazer muita diferença”, destacou Leonardo Letelier, CEO e fundador da empresa.

Riscos e critérios

Para ele, o êxito do investimento de impacto depende ainda de uma estratégia de mitigação de riscos, tanto para o investidor quanto para o empreendedor. “É preciso dar garantias ao investidor, mas para o empreendedor, a assistência técnica, por exemplo, é também uma garantia”.

O executivo falou ainda sobre a necessidade de implementação de medidas de responsabilidade social em relação às comunidades locais e defendeu a adoção de critérios para a concessão de empréstimos socioambientais, como capacidade de execução e de repagamento, ética, dentre outros fatores.

“Capital filantrópico é essencial para destravar transações, mas também é necessário ter uma parcela de comprometimento com o negócio”, enfatizou Letelier.

Desafios

Por sua vez, a supervisora da Beraca disse que os produtores precisam superar alguns desafios, como a necessidade de viabilizar a certificação e adquirir conhecimento a respeito de gestão; ter acesso ao mercado, aos insumos e à documentação oficial; aderir às regras da agricultura orgânica, e contar com assistência técnica gratuita e  capacitação de longo prazo.

Além disso, acrescentou Érica, é preciso diminuir a distância entre vendedor e comprador. “Temos de encurtar a cadeia de valor. Quantos mais intermediários no caminho, mais injusto para o produtor”.

“Os grupos de produtores precisam estar organizados para identificar suas falhas, deficiências e oportunidades de mercado. Isso é um desafio. Eles precisam ter organização e um profundo conhecimento sobre suas atividades”, reforçou Consuelo Pereira, engenheira de alimentos e consultora da certificadora Ecocert.

Comércio justo

Na ocasião, ela defendeu a certificação do comércio justo como ferramenta para o desenvolvimento das cadeias produtivas sustentáveis.

A especialista explicou que “o parceiro do comércio justo, que é o principal comprador da matéria-prima, tem por missão apoiar o produtor com o pagamento de um prêmio que corresponde a 5% do valor de venda de seu produto”.

Esse recurso, completou a consultora, cobre o custo de produção e deixa uma margem de sobra para o produtor. Ele é importante para financiar e desenvolver ações de melhoria como apoio técnico e capacitação”.

Processo de certificação

Segundo Consuelo, na cadeia extrativista, especialmente em relação ao comércio justo, os aspectos sociais, ambientais e de desenvolvimento regional devem ser considerados no processo de certificação.

No âmbito social, disse a consultora, são analisados critérios que indicam a possibilidade de trabalho infantil, juvenil, escravo, de caráter temporário, entre outros fatores.

Já no aspecto ambiental, “o grupo produtor deverá fornecer um diagnóstico com a indicação de espécies da fauna e da flora que estão em risco de extinção e elaborar um plano de ação para mitigar qualquer ação negativa ou de dano no ecossistema”. Nesse caso, completou Consuelo, torna-se necessária a ajuda dos parceiros comerciais.

Por fim, na esfera do desenvolvimento sustentável local, concluiu a especialista, “o grupo deverá ter condições de garantir, por meio do trabalho, condições de acesso à moradia adequada, água, educação e saúde. O processo é monitorado e prevê a elaboração de planos, com três a cinco anos de prazo, para o desenvolvimento de ações de melhoria das condições de vida”.

 

Fonte: CI Orgânicos

Equipe SNA

 

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