Mais seguras: embalagens ‘verdes’ reduzem desperdícios

bioplastico
Pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos elaboraram um filme de amido de mandioca adicionado de polpa de acerola e óleo essencial de cravo, que pode ser consumido. A embalagem traz características antioxidantes e antimicrobianas. Foto: Divulgação Embrapa

Criar uma barreira física que ofereça segurança aos alimentos, tanto na conservação quanto na manutenção da qualidade. Este foi o desafio encarado por pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ): produzir embalagens ecologicamente viáveis (bioplásticas ou embalagens verdes), que aumentam a vida útil dos alimentos nas prateleiras, diminuindo as perdas e a deterioração, principalmente, de frutas e hortaliças.

Para tanto, após inúmeras pesquisas, eles elaboraram um filme de amido de mandioca adicionado de polpa de acerola e óleo essencial de cravo, que pode ser consumido. A embalagem traz características antioxidantes e antimicrobianas. A iniciativa contou com a colaboração com o Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, as chamadas “embalagens ativas” vêm sendo usadas como uma das tecnologias mais bem sucedidas na preservação, por exemplo, de biscoito, carnes, frutas, pães, queijos, entre outros.

O bioplástico de polpa de acerola é antioxidante, por causa do elevado teor de vitamina C e betacaroteno; e microbianas, graças à atuação fungicida do óleo essencial de cravo.  Segundo a estatal, este produto “representa uma inovação para a agroindústria e contribui para a redução do desperdício de alimentos”.

“Percebo que há uma visão maior para a sustentabilidade nos negócios e um interesse da indústria na utilização de plásticos com características ativas e biodegradáveis”, analisa a pesquisadora Mônica Guimarães Farias, responsável pelo desenvolvimento do bioplástico de acerola e doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ela foi supervisionada pelo pesquisador Carlos Piler, da Embrapa Agroindústria de Alimentos.

 

NO LIXO

Levando em conta dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que apontam que aproximadamente um terço dos alimentos produzidos para o consumo humano, todos os anos, vai parar no lixo, as embalagens ativas e inteligentes devem colaborar efetivamente para a redução de perdas quantitativas e qualitativas durante a armazenagem, o transporte e a distribuição.

A utilização do filme ativo aumenta a vida útil de frutas e vegetais, reduzindo perdas. As embalagens ativas protegem o alimento e têm a capacidade de inibir o crescimento de microrganismos, garantindo a qualidade e as propriedades sensoriais dos alimentos, destaca a Embrapa.

De acordo com a estatal, para a produção do filme de acerola, é usado um agente fungicida natural – o óleo essencial de cravo –, eficiente na inibição do crescimento do Penicillium sp., agente causador dos bolores de coloração azul ou verde em frutos cítricos, como laranja, limão e tangerina.

Este fungo, segundo a Embrapa, provoca o apodrecimento mais rápido das frutas, trazendo prejuízos aos agricultores e aos comerciantes. Ele também pode causar reações alérgicas em pacientes sensíveis, o que significa uma ameaça à saúde do consumidor.

“Nossa meta agora é ampliar a produção destes bioplásticos para uma escala industrial, com o uso da técnica de extrusão termoplástica, e continuar trabalhando na melhoria da resistência mecânica e no controle da permeabilidade a gases, de forma a validar as possíveis aplicações”, conta o pesquisador Carlos Piler, da Embrapa Agroindústria de Alimentos.

 

“Nossa meta agora é ampliar a produção destes bioplásticos para uma escala industrial, com o uso da técnica de extrusão termoplástica, e continuar trabalhando na melhoria da resistência mecânica e no controle da permeabilidade a gases, de forma a validar as possíveis aplicações”, conta o pesquisador Carlos Piler, da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Foto: Divulgação Embrapa
“Nossa meta agora é ampliar a produção destes bioplásticos para uma escala industrial, com o uso da técnica de extrusão termoplástica, e continuar trabalhando na melhoria da resistência mecânica e no controle da permeabilidade a gases, de forma a validar as possíveis aplicações”, conta o pesquisador Carlos Piler, da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Foto: Divulgação Embrapa

 

OUTRA TÉCNICA

Outro método desenvolvido, desta vez pela Embrapa Instrumentação (SP), por meio do Laboratório de Nanotecnologia, apresenta películas finas biodegradáveis à base de substâncias naturais provenientes da agricultura e da agroindústria brasileira. Elas podem ser produzidas em menos de dez minutos, por meio de um método inédito, ao contrário do convencional, que demora pelo menos 24 horas e emprega aditivos para facilitar o processamento.

Estes materiais –  atóxicos e sem aditivos – podem ser usados para transportar compras de supermercados ou para empacotar biscoitos, chocolates, balas, entre outros produtos alimentícios. O novo produto foi desenvolvido no Laboratório de Nanotecnologia da Embrapa Instrumentação (SP), por meio do trabalho do engenheiro de alimentos Francys Moreira, pós-doutorando da Embrapa.

 

Processo de fabricação de bioplástico, produzido à base de substâncias naturais provenientes da agricultura e da agroindústria brasileira, demora poucos minutos, enquanto que películas biodegradáveis convencionais levam, pelo menos, 24 horas para ser fabricadas - Foto: Vanessa Lopes/Divulgação Embrapa
Processo de fabricação de bioplástico, produzido à base de substâncias naturais provenientes da agricultura e da agroindústria brasileira, demora poucos minutos, enquanto que películas biodegradáveis convencionais levam, pelo menos, 24 horas para ser fabricadas – Foto: Vanessa Lopes/Divulgação Embrapa

Batizada de casting contínuo, é possível fabricar folhas de plástico biodegradável em larga escala, com a transformação de formulações aquosas de substâncias naturais (como o amido e o colágeno) em películas finas de alta transparência. Além do colágeno, é possível utilizar outras proteínas ou qualquer outro tipo de polissacarídeo, entre eles a quitosana – um polímero natural antimicrobiano encontrado no esqueleto de frutos do mar –, ou até mesmo amidos de diferentes fontes como o de mandioca, derivados de celulose e outras substâncias extraídas de coprodutos do beneficiamento de frutas.

A Embrapa defende o uso dos plásticos biodegradáveis como alternativas aos materiais sintéticos que, ao serem descartados na natureza, trazem prejuízos ambientais. Isto porque levam centenas de anos para decomporem, enquanto os bioplásticos, que são advindos de materiais naturais orgânicos, se deterioram rapidamente durante o processo de compostagem.

 

Por equipe SNA/RJ com informações da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) e Embrapa Instrumentação (SP)

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