O Popular (Goiás): Preocupação com a saúde faz disparar produção de orgânicos

A busca por um estilo de vida mais saudável tem impulsionado o mercado de produtos orgânicos em Goiás. Somente em Goiânia, pesquisa realizada em 2017 pelo Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis) mostra que 22% da população diz já ter realizado consumo de orgânico. A principal motivação é a saúde e a tendência é de crescimento de até 25% ao ano, o que tem feito florescer novos negócios e até produção em grande escala.

“Está mais fácil encontrar e até com custo mais acessível, porque era muito caro”, diz a nutricionista Daniela Ferreira de Sousa. Adepta ao consumo de produtos orgânicos, ela relata que em seus atendimentos vem crescendo a procura por alimentos mais puros, isentos de contaminantes. “Antes, achavam que não fazia tanta diferença, agora muitos já aceitam como a melhor opção.”

Empresas, cooperativas e pequenos produtores têm alcançado mais do que essa parcela da população, há também grande procura fora do Estado e até do país. “Demanda não é o problema e sim a produção, que é pequena e precária”, afirma a coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Sylvia Wachsner.

Ainda são poucos os casos de produção em grande volume no País. Entre os que têm maior escala está a Jalles Machado, como segundo maior produtor mundial de açúcar orgânico. Em Goiás, a empresa produz 75 mil toneladas do produto por safra. São 12 mil hectares dedicados à cana orgânica e previsão de novos investimentos e expansão. A venda ocorre para mais de 20 países.

O diretor comercial da Jalles machado, Henrique Penna, afirma que crescer no mercado interno ainda é um desafio, assim como a maior difusão dos benefícios do produto orgânico para a saúde.

Para Wachsner, a produção de orgânicos é variada e pequena e para atingir o alcance de monoculturas como a da cana-de-açúcar, há um longo caminho. “Casos como o da Jalles levaram anos.” Ela reconhece, porém, que novos projetos mostram que Goiás, onde o agronegócio tradicional é importante, começa a mudar esse cenário.

Exemplo

Pronto para mostrar que é possível ter escala e dar nova cara ao mercado goiano com a produção de hortaliças e frutas orgânicas, bisneto do “Rei do Café”, o paulista Roberto Lunardelli está a frente da Fazenda da Mata. Ele escolheu o cinturão verde na Região Metropolitana de Goiânia para implementar o projeto em 440 hectares. A estrutura considerada pioneira no Estado tem participação da Tropical Urbanismo e investimento previsto de R$ 7 milhões para os próximos quatro anos.

O objetivo é se tornar um dos maiores produtores e exportadores do Brasil. E de forma sustentável – 60% da fazenda tem área preservada. “O nosso projeto é mostrar que é possível produzir orgânicos com alta qualidade e em larga escala.” Em cinco meses de experiência, a venda ocorre para supermercados, empórios e restaurantes em Goiânia, Rio Verde e Anápolis. Entre os diferenciais, aponta a oferta frequente, processo de triagem para entregar produto bonito e preço mais acessível.

“Isso tem possibilitado algo que os clientes não tinham, que é encontrar nas gôndolas orgânicos em qualquer dia e época do ano.” Atualmente, são 27 itens na linha de hortaliças e mais de 100 mil unidades produzidas por mês. As receitas já compensam as despesas e no segundo semestre começa a produção de frutas, vagem e milho e a exportação.

“Quando projetamos o crescimento, vimos que tem demanda maior do que oferta e ficou clara a oportunidade.” A localização e a terra fértil com vocação para atividade ajudaram.

Por outro lado, rotação de cultura, adubação verde e uma série de cuidados foram necessários. Para isso, houve contratação de mão de obra qualificada. São 35 trabalhadores, incluindo agrônomos especializados que vieram de Santa Catarina, São Paulo e de Goiás. Além de ser da quarta geração de fazendeiros da família, Lunardelli acredita que a experiência de 20 anos em gestão de empresas de comércio exterior conta à favor.

O trabalho em grande escala e centralizado tem permitido diluir custos e feito os produtos chegarem às prateleiras mais em conta para os consumidores. “A tabela é competitiva e temos vários itens que em determinada época são mais baratos do que os convencionais.” Há esforço na divulgação da marca, com embalagem trabalhada, gôndulas e ilhas em projeto francês. Segundo ele, a intenção é vender um estilo de vida.

A sedução ocorre aos poucos. “Acho que em função de ser um mercado em ascensão, falta conhecimento técnico a cerca da produção ou está concentrada, mas há interesse”, completa o analista técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Cristiano Palavro. Ele explica que há na parte de grãos iniciativas com a mescla de cultivos com redução de químicos como primeiro passo para a produção 100% orgânica com certificação.

Não há dados consolidados sobre o mercado em Goiás. Porém, de acordo com o Ministério da Agricultura, no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos há 107 produtores goianos, mas menos de 60% têm informações sobre as atividades produtivas. Em 2011 eram 68 produtores e dados do Sebrae Goiás é de que a área na época era de somente 200 hectares, o que mostra o crescimento da produção.

 

Fonte: O Popular, 3 de março de 2018

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