Revista Nacional da Carne: Alimentos sem…

Cada vez mais encontramos alimentos sem glúten, sem colesterol, sem lactose, com redução de sódio, sem ingredientes transgênicos ou com menos açúcares. Não são os quase tradicionais light ou diet, mas novas categorias que atendem aos celíacos, hipertensos, intolerantes a produtos lácteos, alérgicos, etc.

Sob a égide “livre de”, novas seções de produtos debutam no varejo. É uma tendência em franca expansão. Com nova dinâmica, esses alimentos respondem à demanda dos clientes, que poderíamos chamar de ‘consumidores conscientes’, para os quais a escolha daquilo que adquirem está ligada à saúde e ao bem-estar.

No Brasil, calcula-se que existam cerca de dois milhões de celíacos e que 25% da população brasileira seja intolerante à lactose. Se acrescentarmos a esses dados pessoas que não querem consumir produtos com glúten – ou que simplesmente desejam mudar sua dieta para minimizar os sintomas que o excesso de glúten ou laticínios poderia causar a seu bem-estar – cria-se oportunidades para preencher os espaços no varejo, com novas categorias de produtos.

Lembremos que cada vez mais os consumidores buscam informações específicas nos rótulos das embalagens, e isso é uma característica que resulta em várias interpretações subjetivas.

A procura por alimentos livres de aditivos químicos, mais nutritivos e com mais sabor, tem aumentado na mesma proporção que a busca por saúde e qualidade de vida entre as pessoas. O apelo que os alimentos orgânicos carregam – de que são bons para a saúde – faz com que se abra um mercado potencial, com variedade de produtos, que é capaz de atingir não somente os mais antenados com o bem-estar, mas também os que apresentam incapacidade de consumir diversos produtos, ou aqueles que sofrem de transtornos digestivos ou alérgicos.

Especialistas estimam que um em cada cinco consumidores na Alemanha – país com 80 milhões de habitantes – padece de intolerância à lactose. Um por centro é celíaco (evita glúten de trigo e outras culturas de grãos), três por cento não podem tolerar histamina e até sete por cento são intolerantes à frutose. Nos Estados Unidos os consumidores gastam bilhões para consumir alimentos sem glúten – substância que, nesse país, rende diversas manchetes na mídia.

Nem todos que praticam uma dieta sem glúten ou sem lactose é realmente diagnosticado como celíaco, é alérgico ou demonstra intolerância à lactose. “Acho que o glúten me entope por dentro. Estou de regime e me sinto mais leve e melhor agora que não como alimentos com glúten” – observa alguém, ao passo que outro responde: “A mim os laticínios me abarrotam e incham meu abdômen.” Poderíamos argumentar que o diagnóstico clínico dos sintomas foi arrancado da área médica e ficou nas mãos do saber cotidiano. No entanto, esse saber popular faz parte do estilo de vida de milhões.

Intolerância é um tema quente, e as novas categorias de produtos não devem ser subestimadas, pois alergias diferentes são agrupadas sob um termo comum, proporcionando, dessa forma, interessantes oportunidades para os produtores de alimentos orgânicos.

Aliás, nossas pesquisas em diversos supermercados e lojas de alimentos naturais demonstram que, muitas vezes, as pequenas agroindústrias de alimentos orgânicos apresentam um mix de produtos que atendem esses consumidores. São empresas que não focam somente nas pessoas que adquirem orgânicos com freqüência, mas, igualmente, naquelas com necessidades alimentícias específicas. Devido a seu porte, têm mais facilidade de adaptar-se e responder à demanda do mercado.

É possível notar que as pessoas ganharam maior consciência e conhecimento do que são os alimentos orgânicos e naturais. O diálogo agora engloba produtos “mais saudáveis”, “melhores para mim e para o meio ambiente”. A identificação das tendências emergentes que se escondem nas escolhas dos alimentos; descobrir o que procura o consumidor na leitura das embalagens e como deve ser realizada essa comunicação, pode resultar numa verdadeira mina de ouro para produtores e comerciantes. Soluções inovadoras? A chave está em conhecer qual tendência e que produto terá influência direta sobre o consumo.

 

Sylvia Wachsner, coordenadora do CI Orgânicos/Sociedade Nacional de Agricultura

Fonte: Revista Nacional da Carne, julho/agosto 2015

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