Sanções à Bielorrússia já afetam oferta de potássio

O ano chega apenas ao seu segundo mês e as sanções econômicas americanas e europeias à Bielorrússia, estabelecidas em 2021 e que prometem travar o comércio de um dos maiores fornecedores de potássio do mundo, já se fazem notar. Entre janeiro e este início de fevereiro, duas companhias anunciaram interrupções nos negócios com a antiga república soviética: uma de fertilizantes e outra de serviços logísticos.

Enquanto o mercado aguardava o próximo capítulo do imbróglio, os preços do potássio chegaram a recuar US$ 15,00 por tonelada em janeiro. No fim de dezembro passado, a tonelada valia US$ 810,00 (posta no porto, no Brasil). Mas analistas e importadores estimam que o preço poderá subir 20% nos próximos meses. Para os agricultores que dependem quase que totalmente do nutriente importado, como os brasileiros, o cenário é preocupante.

No dia 10 de janeiro, a norueguesa Yara International, maior empresa de fertilizantes do mundo e líder do segmento no Brasil, anunciou que pararia de comprar potássio da Belaruskali, estatal bielorrussa a que fornece, por ano, cerca de 13 milhões de toneladas do produto. O volume é cerca de 20% do consumo global de potássio, um dos ingredientes mais utilizados em lavouras do mundo todo, junto aos derivados de nitrogênio e do fosfato, o trio NPK.

Em comunicado, a Yara informou que, embora o fornecimento esteja, neste momento, em total conformidade com as sanções aplicáveis, outros elos da cadeia de suprimentos estão “retirando serviços essenciais necessários para permitir que as exportações” de Belarus aconteçam.

“Como resultado, a Yara iniciou a redução nas atividades” de compra, o que deve ocorrer até 1º de abril, informa o documento. Vale dizer que a Yara (a operação global, não apenas a brasileira) é a maior compradora individual do produto bielorrusso, a companhia responde por 17% do total.

Logística

O segundo movimento que afeta o fluxo de comércio passou a valer neste mês. A estatal Lithuanian Railways deixará de fazer o transporte ferroviário do potássio que sai da Bielorrússia e viaja até o porto de Klaipeda, na Lituânia, país que integra a União Europeia. Essa é a única rota de escoamento para o produto bielorrusso chegar ao restante do mundo.

Segundo o diretor de Fertilizantes da consultoria StoneX, Marcelo Mello, as principais alternativas para a Bielorrússia exportar estão na Rússia (via São Petersburgo) e na Ucrânia. A primeira tornaria o processo mais oneroso e menos eficiente, e o segundo pode nem ser uma opção viável, visto que o país é o epicentro da tensão militar com os russos.

Nesta semana, veio à tona que a Bielorrússia está em contato com Moscou para tentar embarcar seus produtos por mais de um porto russo. Além disso, a Índia está propondo um acordo à Bielorrússia. “A sugestão é pagar pelo potássio em moeda local (rúpia)”, disse Mello.

Plano complexo

Desse modo, explica o diretor da StoneX, os importadores evitariam um dos problemas gerados pela crise, que é fechar as operações em dólar. “Mas é um plano B complexo”, opina.

A Índia é o terceiro maior importador de adubos do mundo, atrás dos EUA e do Brasil. Uma saída para a Bielorrússia seria a China.

O país asiático poderia substituir compras provenientes de fornecedores de outros países, o que traria algum rearranjo ao “cobertor curto” de fornecimento para o mundo. “Mas também não seria fácil implementar, porque a China também tem relacionamentos a manter”, observa Mello.

Contexto

A escalada de conflitos entre potências ocidentais e o governo de Aleksandr Lukashenko, presidente da Bielorrússia, ganhou corpo ao longo de 2021. Acusado por países do Ocidente de fraudar eleições em seu país, Lukashenko chegou a sequestrar um avião civil, em maio, para perseguir um opositor político.

Após o episódio, em meados do ano passado, a circulação de produtos bielorrussos em portos da Comunidade Europeia ficou mais restrita. Foi quando a UE impôs os primeiros embargos ao país.

Em seguida, em agosto, os EUA estabeleceram uma série de sanções e, entre elas, proibiram o comércio com a Belaruskali. O embargo foi publicado em agosto e passou a valer em dezembro.

Embargos

O comércio estará totalmente vetado a partir de abril, quando o braço comercial da estatal, a BPC, passará a ser incluída nos embargos. A proibição envolve apenas americanos, mas os efeitos afetam outros países importadores, caso do Brasil.

Isso porque as operações de importação costumam ser feitas em dólar e intermediadas por bancos que têm escritórios em solo americano. Os importadores no Brasil estão estudando como driblar esse problema desde o ano passado, informam fontes da indústria ao Valor.

 

 

Fonte: Valor

Equipe SNA

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