Seminário avalia as oportunidades da relação Brasil-China no agro

Xu Yuansheng, Consul do Setor Econômico e Comercial do Consulado Geral da República Popular da China no Rio de Janeiro; Li Yang, Consul-Geral do Consulado Geral da República Popular da China no Rio de Janeiro; Hélio Sirimarco, Vice-Presidente da Sociedade Nacional de Agricultura – SNA; Rong Weidong, Vice-Presidente da Câmara de Comércio da Importação & Exportação de Gêneros Alimentícios, Produtos Nativos e Subprodutos Animais da China (CFNA). Foto: Consulado da China/RJ

Divulgar as exportações dos produtos agropecuários brasileiros, identificar as oportunidades de negócio com a China e fortalecer o comércio entre os dois países. Estes foram alguns dos objetivos do 1º Seminário Sino-Brasileiro de Alimentação e Pecuária, realizado em 14 de junho no auditório da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

Participaram do encontro, entre outros, autoridades do governo brasileiro e da China, além de representantes chineses das áreas de comércio, agricultura, cooperação e investimentos.

Na abertura do evento, o Vice-Presidente da SNA, Hélio Sirimarco, falou sobre a importância do estreitamento das relações Brasil-China no agro e incentivou a apresentação de novas propostas que possam incrementar o comércio bilateral.

O Cônsul Geral da República Popular da China no Rio de Janeiro, Li Yang, celebrou os 45 anos da cooperação entre Brasil e China e ressaltou que o seminário na SNA “é uma boa oportunidade de negócios”.

“Estes encontros políticos ajudam muito todos os setores na cooperação bilateral”, disse o Cônsul. “A agricultura ainda tem muito espaço para crescer. Em especial quando colocamos em perspectiva o que os dois países têm a oferecer”, comentou.

Políticas

Rong Weidong, Presidente da Câmara de Comércio de Importação e Exportação de Gêneros Alimentícios, Produtos Nativos e Subprodutos Animais da China, disse que, para fortalecer as relações internacionais, a Câmara mantém parcerias com 400 associações em todo o mundo, inclusive como forma de aumentar a exportação para consumidores chineses.

“A China é o maior parceiro do setor agrícola no Brasil. Esperamos que, junto à SNA, sob a base do diálogo e do entendimento, possamos apresentar as políticas de importação de produtos alimentícios da China, para que o Brasil possa desfrutar. Não somente se restringir ao setor agrícola, mas também ao de tecnologia”, concluiu Weidong.

Potência regional

O diretor do Centro Provincial de Jiangsu para Cooperação e Comunicação Agrícola Estrangeira, Xia Xiaojiang, afirmou que o Brasil é a origem de muitos produtos agrícolas importados pelo estado chinês, que exporta frutas, verduras, bebidas, oleaginosas, carne, algodão e gordura animal.

Em seguida, Ji Hong, Diretora Geral do Departamento de Comércio de Guizhou, falou que a sua província é um lugar bastante propício para a agricultura, principalmente na produção de ervas medicinais e alimentos orgânicos. “A região também é forte no cultivo de pimenta, lichia, batata e verduras, e também produz uma grande variedade de chás”, completou.

Tecnologia, educação e produtividade

Eduardo Lopes, secretário de Agricultura do Estado do Rio. Foto: SNA

O Secretário de Agricultura do Estado do Rio, Eduardo Lopes, ao mencionar suas duas visitas à China, disse ter ficado surpreso com os cuidados que o país tem em relação à pesquisa e à inovação.

Ao reconhecer a relevância da China em relação à aquicultura, Lopes disse que vê uma oportunidade de crescimento deste setor no Rio de Janeiro. O estado, segundo ele, é capaz de desenvolver uma grande escala de produção. “Acredito que possa acontecer uma cooperação maior entre Brasil-China e Rio de Janeiro-China em relação à tecnologia, educação e produtividade”, afirmou.

O Secretário falou ainda sobre a importância da agricultura familiar no Rio de Janeiro e sobre a busca constante por formas de auxílio ao pequeno produtor.

Expansão de intercâmbio

Ressaltando a tendência de fortalecimento dos laços entre Brasil e China, Igor Brandão, Gerente de Agronegócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX Brasil), enfatizou o potencial de crescimento das exportações do agronegócio brasileiro para o mercado chinês.

“Acabo de voltar de uma iniciativa nossa na China e pude notar que a preocupação era justamente em relação à capacidade de o Brasil suprir essa demanda da China por alimentos. Fiz questão de ressaltar que o Brasil está comprometido com seus parceiros para garantir esse suprimento”, disse Brandão.

Ele destacou que a carne bovina é uma das grandes oportunidades para produtores brasileiros. “Até 2035, cerca 30% do abastecimento de carne do mercado chinês virá de importações. Ali eu vejo uma boa oportunidade para os produtores brasileiros”.

Brandão disse ainda que mais de um terço das exportações do agronegócio brasileiro que bateram recorde de mais de US$ 100 bilhões, no ano passado, teve como destino a China. “O setor do agronegócio gera um quinto dos empregos da nossa economia”, lembrou.

Minas Gerais: parcerias

A importância do Estado de Minas Gerais na relação comercial entre os dois países também ganhou destaque durante o seminário. “Minas tem um potencial gigantesco. É o segundo maior parceiro que a China tem, principalmente no setor de exportação”, afirmou Juliano Alves Pinto, Subsecretário estadual de Promoção de Investimentos e Cadeias Produtivas .

CNA: 35% das exportações do Brasil vão para a China

Pedro Henriques Pereira, assessor da CNA. Foto: SNA

Pedro Henriques Pereira, assessor de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), ressaltou que 51% das exportações do agronegócio brasileiro vão para a Ásia e 35% só para a China. “São regiões com níveis de consumo em forte expansão e população jovem. Tudo isso tem feito que a população demande mais alimentos de alta qualidade, como os do Brasil”, disse o assessor em sua palestra.

De todas as exportações brasileiras, 55% são de produtos agropecuários. “Hoje, o Brasil fornece 76% de toda a soja importada pela China, 26% da celulose, 82% da carne de frango. Isso demonstra uma interdependência desses dois países”, acrescentou Pereira.

O executivo informou que a CNA fez um estudo para saber onde o Brasil tem mais potencial para ampliar as exportações para a China, com inclusão de pequenas e médias empresas do país. Pereira citou os produtos de proteínas animais, celulose, papel, algodão, milho, fumo, madeira, móveis, açúcar, calçados, além de produtos lácteos, da apicultura e o café, sobretudo os cafés especiais, de maior valor.

“A China é um grande importador de produtos lácteos. Vendem leite em pó até no ‘Duty Free”. O Brasil pode se preparar para atender esse mercado, principalmente nos produtos que já tempos exportação, como leite condensado e queijos”, completou.

Outra oportunidade mencionada pelo executivo da CNA está no setor de frutas. “Hoje, o consumo da China se equipara ao dos países desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa. A consciência da necessidade de saúde e o aumento da renda têm criado demanda para frutas de alta qualidade, como as brasileiras. Estamos no processo de negociações para a abertura do mercado do melão, mas há outras frutas que podem ter os mercados abertos, como uvas, laranjas, bananas, mangas, goiabas, maçãs”, disse o executivo.

“Entretanto, além das oportunidades, há muitos desafios a serem vencidos”, destacou. “A lentidão no processo de habilitação e aprovação dos produtos tem dificultado as exportações de alguns produtos”.

Segundo Pereira, “casos recentes como o antidumping da carne de frango e as salvaguardas para a cana-de-açúcar também atrapalham. E a falta de transparência sobre a aprovação dos alimentos transgênicos também tem dificultado nossas exportações”, ponderou o assessor de relações internacionais da CNA.

Investimentos em terras

Ao encerrar o ciclo de palestras da parte da manhã, o Presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga, fez referência à suspensão do embargo da carne brasileira pela China e ressaltou que “os dois países terão um crescimento extraordinário no comércio e nas relações bilaterais”.

Alvarenga chamou a atenção para a expectativa em relação à aprovação no Congresso Nacional de uma nova legislação sobre a propriedade da terra para atrair investimentos estrangeiros na produção agropecuária.

“Muito em breve espero que seja aprovada uma lei que retorne a possibilidade de venda de terras para estrangeiros. Existem vários projetos de lei e espero que um deles seja aprovado. Não é possível impedir que pessoas e empresas estrangeiras venham para o Brasil produzir aqui”, disse o presidente da SNA.

“Tenho certeza de que os chineses estão interessados em segurança alimentar, em produzir bem. Aqui temos terra, água e condições para que isso aconteça. Não temos receio de que vão levar as terras do Brasil para a China. Podem vir. Invistam o máximo que puderem no Brasil”, salientou Alvarenga.

“Precisamos do capital, do esforço empreendedor, dos empresários chineses no Brasil. A China já comprou algumas empresas da área de infraestrutura, transporte e energia. Estamos aguardando que os chineses venham produzir aqui no País, usando também a mão-de-obra brasileira”.

Por fim, o Presidente da SNA comentou sobre a necessidade de o Brasil melhorar as ações de vendas de produtos mais industrializados de origem animal ou agrícola. “Nós temos de aprender a vender mais. Vender soja é muito fácil. O bom é vender produtos um pouco mais industrializados, produtos mais diferenciados. Há vários subprodutos de origem animal que nós podemos vender”, concluiu Alvarenga.

Parceria estratégica

Marcelo Oliveira Mello (MMA Advogados). Foto: SNA

Marcelo Oliveira Mello, sócio da MMA Advogados, falou sobre os investimentos da China no Brasil, destacou a importância da parceria entre os dois países e citou os desafios que o Brasil deverá superar para garantir uma relação bilateral mais integrada.

Mello disse que até hoje o País não conseguiu manter uma parceira mais profunda com a China, em razão do modelo adotado. “Brasil e China precisam promover acordos estratégicos no agro, não somente em relação ao papel de importador e exportador, mas também no segmento de infraestrutura, que é o grande gargalo do setor”, ressaltou o jurista.

Ele disse ainda que é importante “manter parcerias entre cooperativas, produtores e associações para trazer investimentos, tecnologias e estabelecer metas e desafios aos dois países”. Segundo o palestrante, “essa relação só vai avançar na medida em que o Brasil não olhar a China meramente como mercado para seus produtos e a China não olhar o Brasil somente como produtor de commodities”.

Desafios

Mello destacou que “o Brasil será, sem dúvida, um dos grandes players mundiais de segurança alimentar” e que isso representa “a chave para uma parceria mais profunda com os chineses, abrindo espaço para a formação de joint-ventures”.

No entanto, segundo o advogado, a missão não é fácil. “Ambos os países têm enormes desafios no campo jurídico-regulatório. A China tem melhorado rapidamente seu arcabouço regulatório para se tornar um grande player no comércio internacional. Mas o Brasil ainda está engatinhando nessa questão”.

Sobre os investimentos da China no Brasil, Mello informou que no período de 2003 a 2019 foram aplicados mais de US$ 71 bilhões em vários segmentos, sendo a maior parte concentrada nas áreas de petróleo, gás e energia elétrica.

“A China pode contribuir muito com insumos, maquinário, tecnologia voltada para as necessidades do agro e também com rastreabilidade, que está sendo cada vez mais uma condição necessária para a exportação de alimentos”, disse o palestrante, ressaltando outros investimentos como agricultura de precisão, conectividade, agroenergia e automatização para agregar valor e mitigar riscos.

Ao abordar as dificuldades que as empresas chinesas enfrentam ao chegar ao Brasil, Mello enumerou algumas medidas necessárias à superação dos entraves nas negociações, entre elas, a reforma tributária, a redução da burocracia, a garantia de segurança jurídica e a utilização de mecanismos como mediação, arbitragem e outros métodos alternativos em substituição ao processo de judicialização de conflitos.

Riscos e oportunidades

Miguel Flaksman, diretor do BOCOM-BBM. Foto: SNA

Para o diretor executivo do banco BOCOM – BBM, Miguel Flaksman, o importante, antes de iniciar qualquer negociação, é conhecer o mercado e os aspectos de seu comportamento. “É preciso estudar os parceiros comerciais e estruturar os processos produtivos como forma de evitar problemas futuros”, acrescentou.

Durante sua apresentação, Flacksman, que dirige a primeira joint-venture de um banco chinês no País, destacou a necessidade de fortalecer o relacionamento Brasil-China como parceiros estratégicos, falou sobre a atuação dos chineses no setor elétrico em particular, reforçou a relevância da segurança jurídica no País e mencionou alguns aspectos que os chineses devem levar em consideração ao ingressarem no mercado brasileiro.

“É preciso escolher o time certo. Ter suporte financeiro para se proteger dos riscos de mercado e estar cercado de profissionais qualificados para ser competitivo”.

Novos produtos

O segundo painel do evento apresentou as oportunidades que o Brasil pode ter com a chegada de produtos chineses que se destacam na Ásia. Representantes de empresas tradicionais da China mostraram uma variedade de produtos, incluindo vinagres, aguardentes, licores e frutas.

Do lado brasileiro, o cacique Ronaldo Zokezomaiake, representante da cooperativa Coopihanama, do Mato Grosso – que há 15 anos dribla as dificuldades para produzir em larga escala de feijão, milho e soja – falou sobre os desafios de produção em áreas indígenas. “O governo até hoje não dá crédito para os nossos povos”.

Zokezomaiake defendeu a produção de alimentos de qualidade com valor agregado. “A gente quer reinventar a agricultura. Agregando mais valor e trazendo mais qualidade ao alimento. Nós queremos produzir, mas produzir respeitando o meio ambiente, pois nós dependemos dele para viver”, finalizou.

Números da soja

Gustavo Ribeiro, presidente da Aprosoja SP. Foto: SNA

Entre as oportunidades sugeridas para os chineses, além do já mencionado investimento em infraestrutura logística (estradas, ferrovias e armazéns) para diminuir o Custo Brasil e melhorar as exportações, o presidente da Aprosoja São Paulo, Gustavo Chavaglia, propôs o incentivo às operações de ‘barter’ e a agregação de valor às novas tecnologias.

Chavaglia falou sobre o trabalho desenvolvido pela Aprosoja, mencionou a importância da soja como fonte de proteína mais barata para ser transformada em alimento, destacou seu uso na produção de biodiesel, energia, cosméticos, entre outros, e afirmou que o volume de produção da oleaginosa no Brasil é uma garantia para os chineses.

“Os números da soja dão à China a garantia de que produzimos mais, com qualidade e de forma sustentável, sem desmatar e utilizando tecnologia chinesa”.

Chavaglia disse ainda que a sustentabilidade é um conceito que engloba, a princípio, aspectos econômicos, passando pelo viés social até chegar ao meio ambiente. “Não há possibilidade de manter uma floresta se o produtor não tiver renda. Precisamos de políticas que atendam esse aspecto”, disse o diretor, lembrando que, de acordo com dados da Embrapa, o País preserva 66% de sua área.

Orgânicos

Maria Chan, consultora da SNA.

A consultora da SNA Maria Chan encerrou o ciclo de palestras do evento, apresentando dados sobre o mercado de orgânicos no mundo e as atividades desenvolvidas pelo projeto CI Orgânicos – Centro de Inteligência em Orgânicos da SNA.

Chan comentou que “o grande desafio é alimentar a população mundial de forma sustentável” e chamou a atenção para os países que apresentam consumo muito maior de orgânicos do que conseguem produzir, observando uma grande oportunidade de crescimento neste setor.

O 1º Seminário Sino-Brasileiro de Alimentação e Pecuária foi organizado pela SNA, Consulado Geral da República Popular da China no Rio de Janeiro e pela Câmara de Comércio de Importação e Exportação de Gêneros Alimentícios, Produtos Nativos e Subprodutos Animais da China.

 

SNA

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp