Soja: enquanto negócios com os EUA só devem acontecer a partir de 15 de fevereiro, China compra no Brasil

Enquanto o mercado da soja continua especulando sobre quando e se a demanda da China vai voltar efetiva e expressivamente aos Estados Unidos, a nação asiática mantém suas compras concentradas no Brasil. Nesta quarta-feira, a China comprou mais um navio de soja brasileira e, como relata o diretor do SIMConsult, Liones Severo, “já está trabalhando para conseguir mais ofertas”.

Além do mais, os negócios entre China e Estados Unidos só deverão começar a acontecer a partir de 15 de fevereiro, que é quando começa a valer o acordo entre os dois países firmado na semana passada. O Artigo 8.3 do texto oficializado em 15 de janeiro de 2020, em Washigton, na Casa Branca, determina:

1. O presente acordo entra em vigor no prazo de 30 dias a contar da assinatura de ambas as partes ou a partir da data em que as partes se notificarem por escrito da conclusão do contrato de seus respectivos procedimentos domésticos aplicáveis, o que ocorrer primeiro.

2. Qualquer uma das partes pode denunciar o presente acordo mediante notificação por escrito da denúncia
à outra parte. A rescisão entrará em vigor 60 dias após a data em que uma parte fizer uma notificação por escrito à outra parte ou em outra data em que as partes possam decidir.

Severo engrossa o coro das análises que apontam que o Brasil não perde, quando o assunto é soja, diante deste consenso entre as duas maiores economias do mundo.

“O mercado diz que o Brasil terá prejuízo porque a China irá importar 85 milhões de toneladas, segundo a estimativa do USDA, que todos seguem cegamente. Mas o fato é que o desempenho do processamento industrial chinês aponta para uma importação de 104 milhões de toneladas, sem considerar a reposição de estoques”, disse o diretor do SIMConsult.

Ainda assim, ele acredita que haverá uma mudança na demanda chinesa por soja, porém, sem que tire o protagonismo do Brasil como fornecedor. “Sim, vai acontecer, os chineses seguem Confúcio e não mentem para seu povo. Um governo que engana seu povo não tem futuro”. E volta a dizer que a mudança não tira exportações do Brasil. “Pelo contrário. Se não se cuidarem, vai ter escassez de tudo no Brasil”.

A estimativa do SIMConsult é de que as exportações brasileiras de soja somem, em 2020, 77 milhões de toneladas, sendo 62 milhões destinadas à China e 15 milhões ao restante do mundo. E números do Ministério da Agricultura chinês apontam a demanda anual do país pela oleaginosa de 110 milhões de toneladas, sendo que apenas 15% é atendido por sua produção própria.

O gráfico abaixo, da agência internacional de notícias Bloomberg, mostra a diferença dos volumes importados de soja pela China dos EUA e do Brasil nos últimos anos. Mês a mês, as barras cinzas referem-se aos volumes brasileiros e as azuis, aos americanos.

Fonte: Bloomberg

Essa diferença é o que ainda traz muita preocupação aos produtores norte-americanos, que já estão se preparando para, em mais alguns meses, começar a implantação da safra 2020/21. Na visão de Donald Trump, no entanto, essa preocupação já se desfez desde o último dia 15.

“Os produtores estão muito felizes com o novo acordo comercial com a China”, disse o presidente dos EUA pelo Twitter após a assinatura da Fase 1. No entanto, ainda como apurou a Bloomberg, o setor parece não carregar tanta euforia, como acredita Trump. Mesmo assim, seu apoio ao republicano ainda parece sólido, principalmente em um ano tão importante como 2020, em que acontecem novas eleições presidenciais.

Uma delegação de produtores norte-americanos está em visita ao Mato Grosso nesta semana e quem os acompanha é o produtor rural e fundador da Aprosoja, Ricardo Arioli. E Arioli ganhou de presente de um dos agricultores dos EUA um boné com os dizeres ‘Trump 2020’.

“E o que isso significa? Significa que todos eles apoiam o Donald Trump para a reeleição, mesmo com os problemas que eles, teoricamente, estão enfrentando com a China por conta da guerra comercial. Mas todos entendem que o Trump é um homem de negócios e vai fazer tudo para a que a América volte a ser grande novamente”, disse Arioli.

“Eles sabem que um homem de negócios, quando faz uma proposta, não atende a todas as reivindicações, mas têm fé de que os bons negócios estarão de volta para os produtores americanos nos próximos quatro anos”.

Para os chineses, acima de todas estas questões, no entanto, prevalece a segurança alimentar como prioridade. Diante do recente desgaste das relações comerciais com os EUA, que foram seus maiores fornecedores pelos últimos 18 anos antes do início da guerra comercial, a China busca consolidar essa diversificação de seus vendedores, fortalecendo laços não só com o Brasil, mas também com a Argentina, por exemplo, a Rússia e alguns países da região do Mar Negro.

“A segurança alimentar é sempre fundamental para a liderança da China, e essa guerra comercial apenas afirma a importância de se ter uma forte produção doméstica e fontes de importação diversificadas”, disse à Bloomberg o analista-chefe da consultoria agrícola local Shanghai JC Intelligence Co., Li Qiang.

 

Bloomberg/Notícias Agrícolas

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