Soja tolerante à seca produzida pela Embrapa é liberada pela CTNBio

Uma decisão da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) favoreceu a pesquisa de inovação da Embrapa Soja na adaptabilidade do grão às questões climáticas que resultam em seca. A tecnologia utilizada, CRISPR –que em português significa Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas – foi considerada não-transgênica, permitindo, assim, que grão fosse classificado como convencional.  Agora, o grão editado vai passar por três anos de teste para avaliar o valor de cultivo e o comportamento da planta em diferentes ambientes de produção. “Com esta decisão da CTNBio, teremos condições como empresa pública, de testar essa tecnologia a campo, e caso obtenhamos sucesso, reduzir as perdas por falta de água no campo”, explica Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja.

A tecnologia CRISPR é considerada revolucionária por permitir a manipulação de genes com maior precisão, rapidez e menor custo. Em setembro de 2022, a CTNBio aprovou a primeira edição no genoma da soja, conduzida pela Embrapa com a técnica CRISPR. No caso, a ação desativou a lectina, um fator antinutricional da leguminosa que dificulta a absorção de nutrientes. “Na indústria de rações, esta inativação é feita por calor que gera custos ao setor. Com a soja que desenvolvemos, a proposta é reduzir estes custos e aumentar a eficiência de ganho de peso em animais que utilizam estas rações”, explica a pesquisadora Liliane Henning.

De acordo com a coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da SNA, Sylvia Wachsner, “a tecnologia CRISPR utilizada é muito importante, uma ferramenta que não é considerada GMO. Essa decisão possibilita, a ciência avançar, sem muito entraves. A startup BioHop, por exemplo, que está dentro do hub da SNASH, utiliza essa tecnologia para melhoramento do lúpulo”. Tanto na soja mais tolerante à seca, quanto na soja com fatores antinutricionais desativados, a Embrapa tem utilizado a técnica de CRISPR-Cas9, após obtenção de licença junto à empresa Corteva.

A decisão da CTNBio, baseada na normativa que regula o uso de técnicas de edição genética no Brasil, a Resolução Normativa nº 16 (RN16), segue o raciocínio da maior parte dos países que desenvolvem tecnologias para a agricultura, como EUA, Canadá, Austrália, Japão, China e Argentina. Recentemente, em fevereiro de 2023, a União Europeia (UE), que era a única região do mundo que ainda considerava que qualquer técnica de alteração genética como transgenia, alterou sua posição.

A alteração seguindo a RN16 vai facilitar a pesquisa e a transposição do trabalho conduzido em laboratório para a prática do cultivo em solo. “Os processos de pesquisa são menos burocráticos e, portanto, conseguimos reduzir o prazo e os custos para que as cultivares tolerantes à seca cheguem ao mercado, com biossegurança assegurada”, comemoram Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja, e a pesquisadora Liliane Henning. “Além disso, não haverá a necessidade de conduzirmos o processo complexo de desregulamentação comercial de um produto transgênico, que é demorado e oneroso”, destacam.

As questões climáticas têm desencadeado episódios tanto de seca quanto de alagamento ao redor do globo. Na safra 2021/22, os estados brasileiros do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul perderam mais de R$70 bilhões em grãos de soja não colhidos, devido à maior seca das últimas décadas. “A tecnologia que estamos desenvolvendo visa ajudar a mitigar estas perdas relacionadas com períodos de veranico”, explica Nepomuceno.

Por Equipe SNA
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