Supersafra é desafio para a logística

Em 2019, o Ministério da Agricultura estimou que o Brasil produziria 300 milhões de toneladas de grãos na safra 2028/29. Esse volume, porém, deverá ser colhido neste ciclo 2022/23, seis anos antes, e o recorde tende a pressionar a logística de escoamento, o que tem preocupado os exportadores do agro, de soja, milho e também de açúcar, que “disputa” espaço com grãos em ferrovias e terminais portuários. Há gargalos à vista, e os custos poderão aumentar.

O porto de Santos (SP), por exemplo, tem capacidade máxima de embarque de 8 milhões de toneladas de granéis agrícolas sólidos por mês. Ocorre que em 2021 esse limite quase foi atingido em março, quando foram exportadas 7.5 milhões de toneladas, mesmo com colheitas menores que as atuais. No ano passado, recordes de embarques foram quebrados em diversos meses.

“Temos visto uma antecipação de embarques em relação a anos anteriores, e isso pode pressionar ainda mais o sistema portuário brasileiro neste ano, diante de uma safra de grãos mais volumosa”, disse ao Valor Thiago Péra, coordenador geral do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (EsalqLog), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP).

Segundo estudo da EsalqLog, em média um aumento de 10% no volume de exportação no porto gera um aumento de 5% no tempo de estadia dos navios em Santos, além de elevar em 1% o volume de tráfego nas rodovias pedageadas com destino ao porto. “Isso pode resultar em filas de caminhões e aumentar o preço do frete”, disse Péra.

Açúcar e milho

Embora as exportações de açúcar sejam mais regulares, há um leve pico em julho e agosto, justamente quando começará o escoamento da segunda safra de milho. Para os dois produtos, as estimativas indicam aumentos das produções e das exportações.

“No começo do ano, a entressafra do segmento sucroenergético impede que o escoamento de açúcar coincida com a soja, mas o aumento das exportações brasileiras de milho poderá causar uma elevação de preços de frete no segundo semestre”, indicou Péra.

Na primeira semana de fevereiro, Paulo Roberto de Souza, CEO da Alvean (trading da Copersucar) disse que o segmento está preocupado com a logística.

“As safras estão aumentando e há previsão de supersafra de grãos colhida com a de açúcar a partir de abril”, afirmou o executivo em um evento da XP, em São Paulo. A expectativa da Alvean é que o gargalo limite a exportação de açúcar em 2.5 milhões de toneladas ao mês, enquanto a necessidade seria de cerca de 3 milhões.

Corredores logísticos

Esse cenário, porém, poderá ser evitado porque há espaço para transporte de grãos por outros corredores logísticos, e mesmo Santos fica longe do limite de sua capacidade de escoamento dos granéis depois do pico de transporte da soja (fevereiro e março) e do milho (julho e agosto). Na média, Santos tem escoado cerca de 5.3 milhões de toneladas de grãos por mês.

Os portos do Arco Norte estão embarcando, em média, 3.3 milhões de toneladas por mês, e o volume máximo foi registrado em março de 2022 (5.3 milhões de toneladas). “No Arco Norte, as vendas são mais lineares ao longo do ano, porque a safra do Matopiba é mais tardia e porque já são cativas as vendas da região norte de Mato Grosso”, disse Péra.

No caso da soja, habitualmente as exportações por Santos alcançam 73% do total anual previsto, na média dos últimos anos, enquanto no Arco Norte o percentual atinge 53,30%. Os embarques de milho são mais equilibrados: chegam a 72,80% no Arco Norte e a 70,50% em Santos em outubro.

Granéis sólidos vegetais

Segundo a Autoridade Portuária de Santos, desde 2015 houve uma mudança na proporção dos granéis sólidos vegetais exportados pelos terminais açucareiros do porto organizado, que passaram a incluir grãos no mix de produtos movimentados (49% em 2019).

Estudos mais recentes com projeções de capacidade e demanda para granéis sólidos vegetais no porto de Santos apontam para volumes de 80 milhões de toneladas em 2030, em relação a uma capacidade estimada em 104 milhões, após investimentos.

“O planejamento portuário é constante, e a capacidade integrada dos subsistemas dos terminais do porto naturalmente acompanha os aumentos de demanda”, explicou a administração do porto.

Terminais

A Autoridade Portuária de Santos informou que, com a finalidade de proporcionar os aumentos adequados em relação aos novos volumes estimados, em março do ano passado foi arrematado o terminal STS 11 pela Cofco International (trading chinesa), com previsão de investimentos de R$ 764.8 milhões, incluindo a construção de novos silos e armazéns.

Além do STS 11, parte dos terminais de granéis vegetais do porto, a exemplo daqueles localizados na Ponta da Praia e na margem esquerda, estão com obras finalizadas ou em andamento, também para a ampliação de capacidade de movimentação de grãos.

Ferrovia

“Complementarmente, em virtude desses investimentos, e já prevendo a necessidade de escoamento de maiores volumes, em dezembro de 2022 foi assinado o contrato com a nova concessionária que será responsável pela gestão, operação, manutenção e expansão da Ferrovia Interna do Porto de Santos (FIPS)”, informou a administração.

“No âmbito deste contrato, são previstos R$ 891 milhões em investimentos, que aumentarão a capacidade ferroviária atual, de 50 milhões para 115 milhões de toneladas/ano”.

Fonte: Valor
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